Olá galerinha, como estão? Então, a coluna Livros e Filmes tirou uma longaaaa feriaas rsrs mas agora já está de volta e para ficar firme e forte o ano todo! E nessa décima nona edição da coluna, vamos falar de um livro brasileiro. Vamos falar do livro, Estação Carandiru.
"- Na subida da escada, tem uma coisa interessante: estava lavado de sangue, um monte de cadáver espalhado. Não podia parar a fila, os polícias mandavam correr e ameaçavam: se alguém me espirrar sangue, vai morrer! Tinha que correr descalço naquela sangueira, sem levantar os pés para não sujar os elementos, que eles queriam achar pretexto pra matar."
O livro de não-ficção foi escrito pelo médico Dráuzio Varella e lançado em 1999. No livro, o autor além descrever a divisão física da Casa de Detenção, os pavilhões, a sociedade carcerária e relatos de detentos e funcionários, termina com um relato do massacre de 1992, onde foram assassinados cento e onze detentos no "Pavilhão 9".
É um dos livros brasileiros de maior sucesso, com mais de 460 mil exemplares vendidos e Prêmio Jabuti 2000 de Livro do Ano de Não-Ficção. Em 2003 o livro foi transformado em filme pelo cineasta Hector Babenco.
Dentro de suas paredes grossas, a posse de um maço de cigarros pode significar a diferença entre permanecer vivo ou morrer. Com uma população de mais de 7.200 presos e a dez minutos do centro da cidade, a Casa de Detenção de São Paulo, ou simplesmente o presídio do Carandirú, constitui um universo singular e quase desconhecido. Seus habitantes obedecem às normas de conduta da instituição e submetem-se, queiram ou não, a um rígido e implacável código penal próprio.
Lá, homens como Mário Cachorro, Sem-Chance, Jeremias, seu Luís e Filósofo passam o dia soltos e são trancados nas celas à noite. Estação Carandirú é o relato de dez anos de convivência do médico Dráuzio Varella com os ocupantes da Casa de detenção. Médico cancerologista, iniciou um trabalho voluntário de prevenção à AIDS no Presídio em 1989.
Trechos do livro
"Por ele circulam advogados, mulheres com sacolas e funcionários corpulentos de calça jeans que falam do trabalho, riem uns dos outros e mudam de assunto quando um estranho se aproxima"
"A Detenção é um presídio velho e malconservado. Os pavilhões são prédios cinzentos de cinco andares (contado o térreo como primeiro), quadrados, com um pátio interno, central, e a área externa com a quadra e o campinho de futebol."
"O velho Jeremias, de carapinha branca, sobrevivente de quinze rebeliões e pai de dezoito filhos com a mesma mulher, não considera a valentia o ponto forte dos agressores:
- Tantos anos na cadeia, doutor, e nunca vi ninguém matar alguém sozinho. Chega a juntar vinte, trinta, para meter 19 a bicuda naquele que vai morrer..."
"O dia começa às cinco para a turma que serve o café da manhã. Moram todos juntos, geralmente no segundo andar do pavilhão, e fazem parte da confraria da Faxina, que é a espinha dorsal da cadeia, como foi dito."
"Os casais fazem fila diante da mesa, a mulher entrega a carteira de identidade, ele confere a foto, prende o documento à ficha com um clipe e o retém até a saída. Da porta para dentro não há carcereiros, os presos administram a própria visita."
"Nessa fase, eu saía da cadeia com um misto de impotência e culpa. De um lado, não conseguia esquecer o olhar encovado dos doentes; de outro, o que tinha eu a ver com aquilo? Já não bastavam o tempo gasto com as palestras e o risco de andar naquele meio? Além disso, muitas das expressões que me sensibilizavam como médico possivelmente nunca haviam demonstrado complacência diante de suas vítimas indefesas, na rua."
"Passei a semana introspectivo e desinteressado dos acontecimentos sociais, as lembranças da enfermaria indo e voltando. Minha mulher disse que nunca me viu tão calado. A introspecção, no entanto, não refletia a tristeza que como médico talvez eu devesse sentir diante daquela miséria humana."
"A perspectiva de penetrar fundo o universo marginal, embora assustadora, era tão fascinante que para dizer a verdade eu estava feliz, excitado com aquele trabalho e apaixonado pela medicina..."
" - Dia e noite preso, no meio de cara chapado e neurótico da mente. O senhor dorme do lado de um desconhecido, dá cinco minutos nele e ele te voa na sua garganta. Não tem descanso, é tortura psicológica para o ser humano, doutor."
"Durante o banho, observei que eles entravam embaixo do cano com as costas quase encostadas na parede. Comentei o fato com seu Manoel, que explicou:
- Ladrão nunca fica de bunda para os outros, doutor"
"No final, quem aparece para assumir a responsabilidade é quase sempre o laranja. Embora os funcionários saibam que aquele não é o verdadeiro autor do crime ou contravenção, pouco podem fazer contra o código de silêncio que rege a vida no crime."
"A noite havia caído. Na sala de consulta, eu louco para ir embora, entrou um altão, forte, devagarinho, as pernas abertas e as mãos amparando os testículos. Precisou de dois enfermeiros para subir na maca"
" - Se quiser ser minha, é o seguinte: só minha, entendeu? Te ponho num barraco, dou conforto, mas não vai tirar eu, não. Manter mulher de cadeia custa o olho da cara. Tirou eu, já era.
O xadrez da Margô tinha um beliche, cortina bege e um tapete de talagarça com dois cisnes e uma casinha, para não pisar na friagem"
" - O alarme buzinava sem parar; eu nervoso com o tocafita que não saía. Aí, pega ladrão daqui, pega dali, acabei cercado e tive que pular para dentro do cemitério. Sabe onde eu fui cair?
Não foi feliz na queda, andava mesmo com azar:
- Bem no buraco de uma cova aberta..."
"Passava das três da tarde quando a Pm invadiu o pavilhão Nove. O ataque foi desfechado com precisão milítar: rápido e letal. A violência da ação não deu chance para defesa."
"No dia 2 de outubro de 1992, morreram 111 homens no pavilhão Nove, segundo a versão oficial. Os presos afirmam que foram mais de duzentos e cinqüenta, contados os que saíram feridos e nunca retornaram. Nos números oficiais não há referência a feridos. Não houve mortes entre os policiais militares."
Filme
A adaptação para o cinema recebeu o nome Carandiru e foi filmada na própria Casa de Detenção pouco antes de ela ser implodida. Lançado em 2003 o filme teve um orçamento de 12 milhões de reais.
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